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Empresas exportadoras para se protegerem das variações cambiais, adotam política de hedge -- é lugar comum da estratégia corporativa contemporânea. Esse pode ser feito por meio de derivativos, operando contratos futuros de USD, coisa que a Suzano fez, com NDFs e ZCCs. O problema se dá na marcação a mercado dessas posições: valor negativo de R$ ~10,7 milhões.
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Pelo histórico do setor de celulose, números assim nos relatórios assustam. Em 2008, a Aracruz sofreu baque gigantesco, muito bem explicado nessas reportagens: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2018/09/14/a-tormenta-dos-derivativos.ghtml e https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2012/12/14/a-anatomia-de-um-desastre.ghtml.
Em resumo, posições negativas foram se alargando com a valorização do dólar (decorrência dos desdobramentos da crise do subprime nos EUA) e o rombo foi enorme. O processo de fusão com a VCP atrasou e foi ocorrer em 2009. Hoje, a VCP, que virou Fibria, é incorporada à Suzano.
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Mais conhecido desse enredo foi o caso da Sadia; a Piauí retratou bem nessa aqui: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-setembro-negro-da-sadia/
"No dia seguinte, às oito e vinte da manhã, o diretor-financeiro Adriano Ferreira entrou chorando na sala de Walter Fontana Filho. Disse-lhe para esquecer a compra da Frangosul e anunciou: havia perdido o controle das operações de câmbio e a Sadia estava com 5 bilhões de dólares a descoberto no mercado de derivativos. A empresa tinha fechado posições de câmbio a 1,60 real, apostando que o dólar não subiria. Mas, naquele dia, a moeda já havia ultrapassado 1,80 e essa diferença, pelo contrato com os bancos, tinha que ser paga em dobro. São as chamadas operações 2 por 1: a cada subida do dólar, a Sadia tinha que fazer um depósito na Bolsa de Mercadorias e de Futuros para honrar seus compromissos. Como era obrigada a zerar diariamente essas posições, o caixa da empresa e sua liquidez estavam ameaçados."
"No dia seguinte, às oito e vinte da manhã, o diretor-financeiro Adriano Ferreira entrou chorando na sala de Walter Fontana Filho. Disse-lhe para esquecer a compra da Frangosul e anunciou: havia perdido o controle das operações de câmbio e a Sadia estava com 5 bilhões de dólares a descoberto no mercado de derivativos. A empresa tinha fechado posições de câmbio a 1,60 real, apostando que o dólar não subiria. Mas, naquele dia, a moeda já havia ultrapassado 1,80 e essa diferença, pelo contrato com os bancos, tinha que ser paga em dobro. São as chamadas operações 2 por 1: a cada subida do dólar, a Sadia tinha que fazer um depósito na Bolsa de Mercadorias e de Futuros para honrar seus compromissos. Como era obrigada a zerar diariamente essas posições, o caixa da empresa e sua liquidez estavam ameaçados."
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