Mostrando postagens com marcador derivativos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador derivativos. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Enredo de outrora, história de ontem

O release da Suzano do 1º tri/20 deu o que falar por esse quadrinho:


*
Empresas exportadoras para se protegerem das variações cambiais, adotam política de hedge -- é lugar comum da estratégia corporativa contemporânea. Esse pode ser feito por meio de derivativos, operando contratos futuros de USD, coisa que a Suzano fez, com NDFs e ZCCs. O problema se dá na marcação a mercado dessas posições: valor negativo de R$ ~10,7 milhões. 

*
Pelo histórico do setor de celulose, números assim nos relatórios assustam. Em 2008, a Aracruz sofreu baque gigantesco, muito bem explicado nessas reportagens: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2018/09/14/a-tormenta-dos-derivativos.ghtml e https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2012/12/14/a-anatomia-de-um-desastre.ghtml

Em resumo, posições negativas foram se alargando com a valorização do dólar (decorrência dos desdobramentos da crise do subprime nos EUA) e o rombo foi enorme. O processo de fusão com a VCP atrasou e foi ocorrer em 2009. Hoje, a VCP, que virou Fibria, é incorporada à Suzano.

*
Mais conhecido desse enredo foi o caso da Sadia; a Piauí retratou bem nessa aqui: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-setembro-negro-da-sadia/

"No dia seguinte, às oito e vinte da manhã, o diretor-financeiro Adriano Ferreira entrou chorando na sala de Walter Fontana Filho. Disse-lhe para esquecer a compra da Frangosul e anunciou: havia perdido o controle das operações de câmbio e a Sadia estava com 5 bilhões de dólares a descoberto no mercado de derivativos. A empresa tinha fechado posições de câmbio a 1,60 real, apostando que o dólar não subiria. Mas, naquele dia, a moeda já havia ultrapassado 1,80 e essa diferença, pelo contrato com os bancos, tinha que ser paga em dobro. São as chamadas operações 2 por 1: a cada subida do dólar, a Sadia tinha que fazer um depósito na Bolsa de Mercadorias e de Futuros para honrar seus compromissos. Como era obrigada a zerar diariamente essas posições, o caixa da empresa e sua liquidez estavam ameaçados."

sábado, 9 de maio de 2020

Taxa de juros negativas (ao som de Ruben Lopez Furst)

O avanço do covid-19 e o fechamento das economias fez os Bancos Centrais atuarem (e muito!) nesse começo de 2020. Esse mapinha da Bloomberg nos dá uma noção -- mesmo que desatualizado, já que março e abril foram longos meses; a China (PBC), por exemplo, cortou mais um pouco nesse meio tempo:

Charting the Economy: Central Banks Tremble at Crash of Markets ...  

No geral, os BCs optaram por cortar juros para dar um sopro de vida econômico. Outros que já tinham patamares negativos, não mudaram; é o caso do BOJ e ECB (https://www.boj.or.jp/en/mopo/mpmdeci/state_2020/k200121a.htm/ e https://www.ecb.europa.eu/stats/policy_and_exchange_rates/key_ecb_interest_rates/html/index.en.html). 

Depois de reduzir para 0-0,25% em reuniões extraordinárias, o FED manteve e comunicou que deve continuar comprando bonds, mas procura manter o patamar de juros; ou seja, território negativo, não. É o que Powell já tinha dito em outras oportunidades. 

*
O mercado, porém, já começa a precificar taxas negativas. Os contratos futuros na Chicago Mercantil Exchange negociam a 100 - FED funds rate; nesse caso, se o nível estiver acima de 100, o mercado está precificando juros negativos (https://www.cmegroup.com/trading/interest-rates/stir/30-day-federal-fund.html). E é o caso atual:


Com os dados de desemprego assustando, a recuperação econômica se torna mais complicada, por si só. E, na última semana, o mercado passou a ajustar mesmo em telas mais próximas a referência negativa (https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-05-07/negative-u-s-policy-rate-seen-by-early-2021-in-futures-market):

Rally in Fed funds futures signals market leaning toward negative U.S. policy rate

*
Na verdade, o mercado de trabalho assusta e muito (ao menos, não as Bolsas americanas). A capa do NYT de hoje:

*
Um adendo: do comunicado de Janeiro do BOJ, me chamou atenção, além de atuar comprando ETFs (coisa que o FED disse essa semana que fará), os J-REITs. Basicamente, lidará com ativos de Real Estate. 

*
Me aventurando no jazz argentino com Ruben Lopez Furst:

Jazz Argentino En La Universidad - Livros na Amazon Brasil ...Jazz En La Universidad em 2019 

terça-feira, 21 de abril de 2020

Petróleo directed by Quentin Tarantino

Tudo e mais um pouco já foi dito sobre o petróleo ter negociado a preço negativo. Caso você ainda não tenha lido nada (o que é mais difícil que explicar isso aqui), lá vão alguns fundamentos baixistas formando o trailer desse filme: saldo global de petróleo bastante superavitário nesse segundo trimestre de 2020 e estoques altos.



Mais alguns gráficos para ilustrar o tamanho do problema:

1. A produção mundial até reduziu neste 2Q, mas a demanda foi pr'as cucuias, muito relacionada aos problemas do covid-19: menor circulação de pessoas e de cargas (aqui: folha.uol.com.br/mercado/2020/04/isolamento-derruba-demanda-por-frete-de-cargas.shtml), queda nas receitas de empresas e renda das famílias, etc.


Em Abril, a demanda mundial de petróleo deve ser a menor vista desde 1995 (IEA). Nos EUA, a demanda diária é a menor em 30 anos.

Continuing Jobless Claims Hit Record after another 6.6 Million ...

Caso olhemos para tipo de combustível, a principal queda no consumo americana é de gasolina.


2. Estoques altos: muito atrapalha, quem não ajuda

OECD commercial stocks of crude oil and other liquids (days of supply)

Caso queira se inteirar mais sobre a commodity, recomendo o relatório mensal da IEA (https://www.iea.org/reports/oil-market-report-april-2020) e o Short-term energy outlook da EIA (https://www.eia.gov/outlooks/steo/report/global_oil.php) -- ps: não errei a grafia nas siglas, IEA é International Energy Association e EIA, US Energy Information Administration.

*

Nesse meio tempo, as reuniões e, principalmente, as resoluções da OPEP+ colocaram lenha nessa fogueira. Na última (a terceira deste ano), ficou decidido corte de 10 milhões de barris/dia para balancear a conta. A ver cenas dos próximos capítulos.

*
Vamos aos preços negativos, mas antes uma nota: negocia-se petróleo em todo lugar, o que acontece é que, pelo volume e importância, algumas Bolsas são referência. Os dois principais contratos, servindo de benchmark para o mercado, são negociados pela ICE (Intercontinental Exchange e antiga IPE -- International Petroleum Exchange): o Brent (Londres) e o WTI (West Texas intermediate).

Como vimos acima, o cenário não sustentava preços como outrora e a faixa de USD 20-30/barril tinha virado lugar comum após a reunião desastrosa da OPEP+ do início de março. Mas sair desse patamar para a faixa negativa é estranho. É, ma non troppo. Vejamos. 

É possível negociar uma commodity no mercado spot (à vista: compra e venda para o momento) ou futuro. Neste último compra-se um contrato com uma tela futura de referência, nesse caso a tela de Maio (CLK0, caso busque o ticker), e quando chegada a data, haverá a entrega. No WTI, as referências são mensais: https://www.theice.com/products/213/WTI-Crude-Futures/expiry

Acontece que os negócios podem ser feitos, no geral, por: compradores/produtores, os comerciais "clássicos", fundos de investimento (de pensão, Multimercado, dentre outros) e especuladores. Os dois últimos não têm interesse no produto físico, mas no negócio em si. Portanto, não irão "estar presentes" na entrega. Assim, quanto mais perto da expiração do contrato, mais arriscado ficar com a posição em mãos. E foi o que aconteceu, com um dia para expirar, uma grande parte desses contratos precisavam ser liquidados, daí, para chegar em preços negativos foi um pulo.

Para o físico, além do produto, o barril de petróleo em si, duas outras variáveis estão presentes: custo para estocar o produto (storage) e frete para levá-lo à Oklahoma, local acordado para entrega. Já falamos que os estoques estavam altos, ou seja, pouco lugar pra guradar o produto disponível, e os preços para tanto subiram (Não consegui encontrar uma referência de preço para os EUA, mas pela Reuters: "In Cushing, Oklahoma, the delivery point for benchmark U.S. crude, traders said rates more than doubled to 50 cents per barrel per month from about 20 cents a month ago"https://www.reuters.com/article/global-oil-storage/global-oil-storage-fills-to-the-brim-despite-leap-in-costs-idUSL8N2BH3AM).

Era mais caro assumir os custos extra-petróleo do que lucrar com o barril em si. Daí que era preferível pagar para se livrar do ativo, do que honrar o papel. E lá foram os preços buscar o USD - 40/barril, tendo fechado a USD -37,63 (foi até difícil escrever esse preço negativo: o quê vem antes o sinal de menos ou a referência da moeda?).

Imagem

*

Por fim, um resumão de preços para o petróleo no último século e meio pelo Goldman Sachs, retirado daqui: 155 years of oil prices - in one chart - https://www.weforum.org/agenda/2016/12/155-years-of-oil-prices-in-one-chart/

History of oil prices

Fundos de investimentos futebolísticos - 2º tempo: Milan&Elliot

O Milan do trio holandês Van Basten&Gullit&Rijkard (vide abaixo, trajados de rossonero) todo mundo que teve um mínimo de contato com...