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domingo, 24 de maio de 2020

Fundos de arte, ETFs para tudo, CoCo bonds, o economista dançarino e Alberto Alesina

Das coisas que mais gosto de passar o tempo fuçando são fundos de investimento fora da caixa -- digamos, assim. O FIP Brazil Golden Art, por exemplo, investe em obras de arte plásticas acá: http://www.brazilgoldenart.com.br/Site/Institucional

Um pouco sobre o fundo que tem prazo mínimo de resgate de 5 anos: https://alemdofato.uai.com.br/economia/arte-um-mercado-de-regras-frouxas-atras-de-investidores/

"No ano passado, o fundo da gestora Plural Capital possuía mais de 540 obras de arte de mais de 300 artistas brasileiros. O acervo do fundo era composto por obras de artistas “blue chips” – nomes consagrados no mercado das artes – e “small caps” – artistas emergentes, cujas obras devem valorizar nos próximos anos"

E suas exposições: https://www.select.art.br/pontas-de-lanca/ e https://harpersbazaar.uol.com.br/bazaar-art/brazil-golden-art-e-o-instituto-om-apresentam-a-expo-dialetica/

Foto: Divulgação

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Esses dois permitem dizer que sim:

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Em tempos de juros negativos, os CoCo bonds reaparecem como alternativa. Os contingent convertibles são títulos passíveis de serem trocados por ações da companhia, caso cenários ruins acordados virem realidade -- leia-se dívida cresça muito, por exemplo. São títulos perpétuos e foram criados para que o ônus de um cenário ruim (para abusar do eufemismo), como uma crise bancária, não fique restrito (como nos idos de 2008) e possa ser diluído. Para tamanho risco, a remuneração desses Additional Tier 1 (AT1) é maior: 

"Most CoCos paid a coupon of between 6 and 9 percent in early 2019, roughly double or even triple that of more secure senior bank bonds." (https://www.bloomberg.com/quicktake/contingent-convertible-bonds)

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Os bancos europeus se aproveitaram desse instrumento. Exemplos são os casos do BBVA  e do Deustche:

"So-called additional tier 1 regulatory capital bonds (CoCos) are an especially risky type of debt because the investor bears the losses if the bank fails. As such, it’s notable that Deutsche is self-assured enough to sell them — and people are happy to buy. The new issue announced on Tuesday saw initial talk of a 6.75% coupon reduced dramatically to 6% in the final pricing; the order book was 11 times higher than the $1.25 billion issue size." (https://www.bloombergquint.com/gadfly/deutsche-bank-has-been-let-back-into-the-coco-bond-club)

Para dar uma noção do tamanho do mercado:

CoCos Keep Coming

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O mercado asiático de CoCos continuou levantando dinheiro mesmo durante o coronavírus: https://www.bloomberg.com/opinion/articles/2020-02-27/coronavirus-can-t-stop-the-coco-bond-express-bank-of-china-shows

 "It’s quite a statement to launch a US$2.82 billion foreign-currency perpetual bond (the riskiest type of debt) in the biggest Chinese deal of this type since 2017 — especially when the debt capital markets have hit their quietest period this year on coronavirus uncertainty. 

Bank of China Ltd. achieved this feat on Wednesday, with one of the lowest coupons on record (3.6%) for any bank for this type of issue."

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Por aqui os bancos também se aventuram: https://twitter.com/PedroCerize/status/1264269852367298574

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Uma das melhores histórias que li sobre academia no finado blog Leis da Oferta, em texto escrito pelo Vinicius Carrasco: https://web.archive.org/web/20160512064558/http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/leis-da-oferta/2016/05/06/yuliy-sannikov-medalhista-clark-bates-de-2016/

"Fazendo desse seu job market paper, passou a procurar emprego. À exceção de Stanford (que, como todas as escolas, tem saudável política de não oferecer emprego direto a alunos), todas as escolas lhe fizeram oferta. Escolheu ir para Berkeley por uma razão inusitada: seu par de dança estava na Bay Area. Sim, Yuliy Sannikov é dançarino profissional de salão (ball dancer). Queria continuar competindo e precisava manter a parceira… De Berkeley, foi para a escola de Finanças da NYU, passou um tempo em Harvard como professor visitante e, desde 2008, é professor titular em Princeton."  

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quarta-feira, 20 de maio de 2020

Os hedge funds de quarentena

Como os hedge funds têm se comportado nesses tempos:

Eleven Hedge Fund Traders Scored Big During Worst of the Crisis --https://www.bloomberg.com/news/features/2020-05-19/these-hedge-funds-beat-the-coronavirus-driven-market-collapse

Delivery, Streaming Were Hedge Funds’ Biggest Bets at Pandemic Start -- https://www.bloomberg.com/graphics/where-hedge-funds-invest-13F/2020-q1.html?srnd=premium

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E um bônus venezuelano:


Tem como ir mais pra baixo? O pessoal aí de cima crê que não

Some investors are bullish on Venezuela bonds after years of losses

sábado, 9 de maio de 2020

Alguns pitacos sobre fundos soberanos - e a descoberta tardia de que o nosso se foi...

Fundos soberanos, ou Sovereign Funds, são fundos estatais que gerem altas quantias (assustadoramente altas, para quem não é versado), proveniente grande parte das vezes de atividades extrativas, como a exploração de petróleo. A região de origem dos maiores fundos é explicativa (https://www.swfinstitute.org/fund-rankings/sovereign-wealth-fund):


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A política de investimento desses fundos gira em torno de ativos offshore: ações, real estate, bonds. Tanto é que minha ideia de escrever algo sobre o tema surgiu lendo uma notícia sobre o follow-on da Natura, empresa que conta com um destes grandes SWFs entre seus principais acionistas: o GIC (Government of Singapore Investment Corporation). 

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O maior deles, o Norway’s oil fund ou Norway Government Pension Fund Global, foi criado na década de 90 para limitar os efeitos que a volatilidade de preços do petróleo pudesse gerar ao país - como o nome ilustra, o dinheiro do fundo vem da exploração da commodity. Abaixo o crescimento do valor de mercado do fundo desde meados de sua criação -- aliás, o site deles é muito completo; vale muito passar um tempo por lá: 


A política de investimento é toda voltada para ativos de fora e seguem uma alocação de ~70% em ações. Pra diversificar tamanho volume de dinheiro num único tipo de ativo, são mais de 9.000 empresas investidas em 74 países: no total, investem em 1,5% de todas as companhias listadas nas Bolsas globais!

Nesse link dá pra ver todos os ativos investidos -- no Brasil vai de IRB a São Martinho (só não cabe Oi na carteira, pelo visto): https://www.nbim.no/en/the-fund/holdings/holdings-as-at-31.12.2019/?fullsize=true


O retorno anual é bastante respeitável: https://www.nbim.no/en/the-fund/returns/


Esse ano, porém, o baque será grande e a chamada da Bloomberg dá a proporção: Norway Wealth Fund Lost Record $113 Billion in Stock Slump. No primeiro trimestre/20, o fundo teve perda de 14,6%; com as ações caindo 21,1%. E diferente de outros momentos, dessa vez, para ajustar nas contas do país, o fundo vai repassar parcela de seu PL ao governo (coisa que aconteceu em outros momentos de cotações baixas do petróleo). Precisaram, também, vender na baixa:

"The crisis triggered by the coronavirus pandemic is playing out very differently for the giant investor than the 2008 great recession. Back then, Norway’s wealth fund used the global sell-off to buy up cheap stocks. This time, the fund will probably need to offload a sizable chunk of its bond portfolio."

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Acá, por um tempo, também tivemos nosso Fundo Soberano (com letras maiúsculas menos por sua relevância do que por costume de escrita). Foi criado em meados de 2008 com o intuito de investir parte da grana gerada com os royalties da exploração do pré-sal. Sem nenhum sucesso em tentar gerir essa empreitada, descobri com atraso que, com a aprovação da MP da liberdade econômica ano passado, foi extinto.

Não seguindo o "padrão" de investir em ativos de fora, colocou dinheiro em títulos públicos, ações do BB e da Petrobras e...

"A equipe de Arno Augustin comprou nada menos que 12 bilhões de reais em ações da Petrobras. Pagou 29,65 reais pelas ações ordinárias e 26,30 reais pelas preferenciais e passou a ter 3,9% do capital da companhia. Além de não ter absolutamente nada a ver com os objetivos do fundo, esse investimento foi desastroso. 
As ações da Petrobras perderam cerca de 40% de seu valor nos dois anos seguintes. Mas foi aí que surgiu o inexplicável. Arno e seus magos das finanças inverteram a lógica mais básica que rege investimentos e decidiram vender tudo. Compraram na alta e venderam na baixa — e jogaram na lata do lixo 4,4 bilhões de reais." (https://exame.abril.com.br/revista-exame/deixa-no-cdb-arno/)

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Adendos da 2ª-feira

FED vai passar a comprar ETFs no mercado secundário agora em Maio; são os CCFs (Corporate Credit Facility) entrando em campo: https://www.newyorkfed.org/markets/primary-and-secondary-market-faq/corporate-credit-facility-faq

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Enquanto isso em terras brasilis, o Orçamento de Guerra passou no Senado que, mesmo com restrições, permite ao Banco Central comprar títulos públicos e privados no mercado secundário. Já vinha operando com bonds de outras formas: BC passa a fazer repos de títulos soberanos em dólar (https://www.bcb.gov.br/detalhenoticia/17002/nota)

Esse compilado do BaCen é bom para mapear esse monte de informação, aliás: https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/medidasdecombate_covid19

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Descobri esse álbum ao vivo do Caetano & João Gilberto em Buenos Aires (https://www.youtube.com/watch?v=kKlfnRmiXhA), imagine ter ido... 

Também achei esse do Anthony Braxton que mais parece uma lista de equações do colégio:


sexta-feira, 1 de maio de 2020

As pandemic bonds do World Bank, o ebola e o covid-19

Em 2016, o World Bank tinha em mente emitir títulos com intuito de formar uma reserva a ser usada caso uma nova pandemia surgisse no globo. Quem contou a ideia ao mundo, em fevereiro daquele ano, foi o então CFO da organização, ex-ministro da Fazenda no Dilma II e ex-presidente do BNDES no governo atual, Joaquim Levy (https://www.bloomberg.com/news/articles/2016-05-16/world-bank-weighs-issuing-bond-to-fight-pandemics-cfo-levy-says). Basicamente, a ideia era seguir o que já feito pelas catasthophe bonds (ou "cat" bonds), que iam para a mão de investidores, estes remunerados por gordas taxas de juros; definida a maturidade na emissão dos títulos, dependia do acontecimento de um furacão, terremoto ou outro evento similar para ter o valor arrecado usado para sanar os traumas.

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Passado um ano, a ideia saiu do papel em 2017. O World Bank criou o PEF, Pandemic Emergency Financial Facility, um fundo que seria usado para conter uma pandemia iniciada. Como mostra a ilustração da organização, a captação para constituir o PEF se daria de duas formas:

1) pela doação de países, no caso, Alemanha, Japão, Austrália (https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2018/06/21/world-bank-groups-pandemic-emergency-financing-facility-pef-welcomes-australia-as-new-donor), e do IDA (International Development Association), braço do World Bank que financia os ~75 países mais pobres do globo;

2) pela emissão das pandemic bonds 
Image 
E seria gerido por um grupo de países e órgãos internacionais: "a steering body composed of donors (Japan, Germany, and Australia), international organizations (including the World Health Organization, UNICEF, and the World Bank), and two IDA-eligible countries (Liberia and Haiti)" (https://www.worldbank.org/en/topic/pandemics/brief/pandemic-emergency-facility-frequently-asked-questions). 

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Com o corpo de funcionamento do projeto atendido, foram lançadas as pandemic bonds em Junho de 2017: World Bank Launches First-Ever Pandemic Bonds to Support $500 Million Pandemic Emergency Financing Facility (https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2017/06/28/world-bank-launches-first-ever-pandemic-bonds-to-support-500-million-pandemic-emergency-financing-facility).

E a emissão foi muito bem sucedida:
"The transaction, that enables PEF to potentially save millions of lives, was oversubscribed by 200% reflecting an overwhelmingly positive reception from investors and a high level of confidence in the new World Bank sponsored instrument. With such strong demand, the World Bank was able to price the transaction well below the original guidance from the market. The total amount of risk transferred to the market through the bonds and derivatives is $425 million."

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Eram duas classes de títulos, que rendiam um benchmark, o  USD Libor (algo como uma Ptax para o dólar), mais cupons de 6,5% ou 11,1% ao ano -- este último abarcando mais doenças a serem cobertas, obviamente. Em época de juros baixos, um título rendendo a taxas nesses níveis só se fosse junk bond, com péssimo rating pelas agências de risco. Cenário totalmente diferente para o World Bank: "rated Aaa/AAA (Moody’s/S&P)".

   
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O World Bank deixava claro quais eram os conjuntos virais que cobriria uma possível disseminação:


Entretanto, para realmente financiar os cuidados desta nova disseminação (por meio da denominada Insurance Window), os critérios estabelecidos importavam bastante. E em 2019, na primeira possível atuação efetiva do PEF, o contágio de uma epidemia de ebola na República Democrática do Congo não se expandiu para outros países em larga escala. Resultado: o World Bank ajudou, mas de forma rasa: https://www.bloomberg.com/news/articles/2019-08-14/ebola-bond-pays-investors-millions-while-congo-battles-outbreak e https://www.economist.com/finance-and-economics/2019/08/29/the-world-banks-pandemic-bonds-are-not-paying-out-for-ebola

Olga Jonas, que atuou no controle da gripe aviária e do SARS no World Bank, hoje em Harvard, foi  enfática em artigo na Nature à época (https://www.nature.com/articles/d41586-019-02415-9): 

"In July, the World Bank announced that it would, independently of PEF mechanisms, mobilize up to $300 million towards the Ebola outbreak. Meanwhile, the PEF has cost much more than it has brought in. The World Bank, where I worked for 3 decades as an economist, has not advertised the bonds’ exact terms, but I have ploughed through the confusing 386-page bond prospectus. The PEF has already paid around $75.5 million to bondholders as premiums, but has not disclosed how much they have been paid in interest — and it is set to pay much more. However, outbreak responders have received just $31 million from the PEF, and the much-touted potential payout of $425 million is highly unlikely. Twice as many investors signed up to buy pandemic bonds as were available. It was a good deal for investors, not for global health."

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O prazo de vencimento dessas bonds era Julho de 2020 e acontece que antes chegou o covid-19, um dos grupos virais cobertos pelas pandemic:



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Mesmo com pandemia alcançando mais de 200 mil mortes (https://coronavirus.jhu.edu/map.html), houve imbróglio para confirmar se esta cumpriria os critérios de disseminação: "AIR Worldwide Corporation published its so-called eligible event report, determining that the outbreak hadn’t met the “exponential growth rate” criterion in eligible countries, the World Bank said in a statement dated April 9." (https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-04-10/deadly-virus-fails-to-trigger-world-bank-s-pandemic-bonds).

Por fim, pela última decisão, será colocada em prática -- mesmo que com ressalvas: "The World Bank’s “pandemic bonds” will pay out $132.5m to some of the poorest nations affected by coronavirus, the Washington-based institution has confirmed, although critics question whether the payout is too late to be effective." (https://www.ft.com/content/c8556c9f-72f7-48b4-91bf-c9e32ddab6ff).

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