quarta-feira, 13 de maio de 2020

A Igreja da Inglaterra tem um fundo (e eles são bons nisso)

A Igreja anglicana da Inglaterra gere um fundo de £8,3 bilhões, convertendo pelo câmbio de ontem (13), dá um PL de R$ ~ 59 bilhões. Descobri isso, despretensiosamente, por uma matéria do Brazil Journal que comentava sobre os critérios mais rígidos adotados por fundos de investimento, em especial, fundos soberanos e de endowment, ao escolherem os ativos para compôr seus portfólios: https://braziljournal.com/blacklisted-aumenta-a-pressao-sobre-petroleiras-e-mineradoras

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A gestão do fundo é feita pela Church Comissioners e segue filosofia de investimento baseada em retornos consistentes no longo prazo, diversificando a carteira, para tanto:

"Our investment objective is to generate a return of inflation (RPI) +5.0% p.a., on average, over the long term to support the work and mission of the Church of England today and for future generations"

Dentre as classes de ativos, possuem bonds, ações de companhias listadas ou não, real estate (dentre os quais, condomínio e shopping -- "Two of the largest holdings in our portfolio are the Hyde Park Estate in London, and our 10% stake in the Metrocentre in Gateshead") e investimentos alternativos. 

Mas esse aqui foi o que mais deu o que falar: https://www.forbes.com/sites/javierhasse/2019/06/13/the-church-of-englands-10-5b-fund-will-now-invest-cannabis/#6cf1364117fd. -- The Church Of England's $10.5 Billion Fund Will Now Invest In Cannabis

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Os reports anuais tão aqui: https://www.churchofengland.org/about/leadership-and-governance/church-commissioners/publications e são bem completos -- melhor elaborado que muitos (não poupe o "s" nesse fim) outros tantos que já vi. Os retornos do fundo são analisados por diferentes períodos de tempo -- já que pensado com diferentes finalidades:

E aqui a alocação:

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Seguem a ideia de investimentos responsáveis (como dei spoiler no começo), passando por critérios ambientais, sociais e de governança. A ideia utópica seria ter apenas ativos AAA na carteira, sendo a base de comparação com o ESG benchmark, elaborado pelo Morgan Stanley (acá https://www.msci.com/esg-indexes):
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Escrevendo, estive ouvindo o Dizzy Gillespie sua banda numa versão primorosa - e muito engraçada! - de Chega de Saudade; acá: https://www.youtube.com/watch?v=wxs8yEvdnUg

Comentários lítero-futebolístico-musicais

Descobri essa matéria da Paris Review (https://www.theparisreview.org/blog/2014/06/03/an-absolute-truth-on-writing-a-life-of-coltrane/) de uma biografia do Coltrane escrita em 1975. Acontece que o autor, Cuthbert Ormond Simpkins, é médico com passagem pela Harvard Medical School e sua família esteve na linha de frente da luta por direitos civis nos EUA:

"In the 1950s Dorothy was one of the first black people in Shreveport to refuse to move from the front of a city bus. The police once pulled her from a bus and arrested her in front of the troupes of Boy Scouts and Cub Scouts she was escorting. In the early sixties, when Tuffy was a teenager, two of the family’s houses were bombed by white supremacists."

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Há poucas coisas relacionadas a futebol melhores que a série Residence da SoccerBible na rede: https://www.soccerbible.com/design/residence/

Residence #9 | 'Craven Cottage' Fulham Football Club

Some description

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Até o fim da quarentena vou matar os instrumentais da NPR Music Tiny Desk Concert. Escrevendo, tô ouvindo o Igor Levit, que descobri pela New Yorker dessa semana: https://www.youtube.com/watch?v=HSyJNWyRZ8Y

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Os gringos tratam melhor nossa música que nós mesmos. Quem dera encontrar alguma edição em encarte de um destes 33 rotações... ps: com a libra a R$ 7,19, o Clube da Esquina sai por R$ ~330: https://www.mrbongo.com/collections/music/brazilian?page=1&sort_by=price-descending

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Marques Rabelo é um dos autores que preciso criar vergonha na cara, tirar da estante a edição da José Olympio e ler: https://blogdoims.com.br/o-mais-lembrado-dos-autores-esquecidos/

terça-feira, 12 de maio de 2020

Pontuando o que BIS e Bacen escreveram em pdf & Hiro Uzawa numa thread do Twitter

Esses dias fiquei pensando em como o covid-19 podia mudar nossa relação com dinheiro papel-moeda, já que algo que passa de mão em mão não me parecia uma coisa imutável depois desses tempos. Cheguei num estudo do BIS de começo de abril: https://www.bis.org/publ/bisbull03.pdf. Alguns comentários:


  • Não fui só eu que andei pensando nos perigos de transmissão da doença por esse meio

  • Pesquisas dão conta, porém, que o risco de transmissão é baixo se comparado com outros meios


  • Já havia um movimento de expansão do uso de cartões de crédito com recurso de pagamento por aproximação, assim como aumento no limite estabelecido para essa função em alguns países. É possível que o covid-19 fortaleça esse movimento para o futuro 

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Esse ponto 15 da ata da última reunião o Copom deu o que falar. Não foi muito para menos:


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As threads da Beatrice Cherrier no Twitter são prato cheio! Por lá conheci o Hiro Uzawa (https://twitter.com/Undercoverhist/status/1075911292517531650), que só teve essa história de vida:

"There’s this economist few remember, who wrote the 1st 2-sectors growth model, brought Pontryagin to econ, played rugby w/ Inada, argue over Marxism & Keynes w/ Solow & Kahn, rediscovered Veblen & ended up contributing to a papal encyclical."

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Escrevendo, estive ouvindo os porto-riquenhos do ÌFÉ na NPR: https://www.youtube.com/watch?v=Q6s_ZL8b3GE

sábado, 9 de maio de 2020

Alguns pitacos sobre fundos soberanos - e a descoberta tardia de que o nosso se foi...

Fundos soberanos, ou Sovereign Funds, são fundos estatais que gerem altas quantias (assustadoramente altas, para quem não é versado), proveniente grande parte das vezes de atividades extrativas, como a exploração de petróleo. A região de origem dos maiores fundos é explicativa (https://www.swfinstitute.org/fund-rankings/sovereign-wealth-fund):


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A política de investimento desses fundos gira em torno de ativos offshore: ações, real estate, bonds. Tanto é que minha ideia de escrever algo sobre o tema surgiu lendo uma notícia sobre o follow-on da Natura, empresa que conta com um destes grandes SWFs entre seus principais acionistas: o GIC (Government of Singapore Investment Corporation). 

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O maior deles, o Norway’s oil fund ou Norway Government Pension Fund Global, foi criado na década de 90 para limitar os efeitos que a volatilidade de preços do petróleo pudesse gerar ao país - como o nome ilustra, o dinheiro do fundo vem da exploração da commodity. Abaixo o crescimento do valor de mercado do fundo desde meados de sua criação -- aliás, o site deles é muito completo; vale muito passar um tempo por lá: 


A política de investimento é toda voltada para ativos de fora e seguem uma alocação de ~70% em ações. Pra diversificar tamanho volume de dinheiro num único tipo de ativo, são mais de 9.000 empresas investidas em 74 países: no total, investem em 1,5% de todas as companhias listadas nas Bolsas globais!

Nesse link dá pra ver todos os ativos investidos -- no Brasil vai de IRB a São Martinho (só não cabe Oi na carteira, pelo visto): https://www.nbim.no/en/the-fund/holdings/holdings-as-at-31.12.2019/?fullsize=true


O retorno anual é bastante respeitável: https://www.nbim.no/en/the-fund/returns/


Esse ano, porém, o baque será grande e a chamada da Bloomberg dá a proporção: Norway Wealth Fund Lost Record $113 Billion in Stock Slump. No primeiro trimestre/20, o fundo teve perda de 14,6%; com as ações caindo 21,1%. E diferente de outros momentos, dessa vez, para ajustar nas contas do país, o fundo vai repassar parcela de seu PL ao governo (coisa que aconteceu em outros momentos de cotações baixas do petróleo). Precisaram, também, vender na baixa:

"The crisis triggered by the coronavirus pandemic is playing out very differently for the giant investor than the 2008 great recession. Back then, Norway’s wealth fund used the global sell-off to buy up cheap stocks. This time, the fund will probably need to offload a sizable chunk of its bond portfolio."

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Acá, por um tempo, também tivemos nosso Fundo Soberano (com letras maiúsculas menos por sua relevância do que por costume de escrita). Foi criado em meados de 2008 com o intuito de investir parte da grana gerada com os royalties da exploração do pré-sal. Sem nenhum sucesso em tentar gerir essa empreitada, descobri com atraso que, com a aprovação da MP da liberdade econômica ano passado, foi extinto.

Não seguindo o "padrão" de investir em ativos de fora, colocou dinheiro em títulos públicos, ações do BB e da Petrobras e...

"A equipe de Arno Augustin comprou nada menos que 12 bilhões de reais em ações da Petrobras. Pagou 29,65 reais pelas ações ordinárias e 26,30 reais pelas preferenciais e passou a ter 3,9% do capital da companhia. Além de não ter absolutamente nada a ver com os objetivos do fundo, esse investimento foi desastroso. 
As ações da Petrobras perderam cerca de 40% de seu valor nos dois anos seguintes. Mas foi aí que surgiu o inexplicável. Arno e seus magos das finanças inverteram a lógica mais básica que rege investimentos e decidiram vender tudo. Compraram na alta e venderam na baixa — e jogaram na lata do lixo 4,4 bilhões de reais." (https://exame.abril.com.br/revista-exame/deixa-no-cdb-arno/)

Taxa de juros negativas (ao som de Ruben Lopez Furst)

O avanço do covid-19 e o fechamento das economias fez os Bancos Centrais atuarem (e muito!) nesse começo de 2020. Esse mapinha da Bloomberg nos dá uma noção -- mesmo que desatualizado, já que março e abril foram longos meses; a China (PBC), por exemplo, cortou mais um pouco nesse meio tempo:

Charting the Economy: Central Banks Tremble at Crash of Markets ...  

No geral, os BCs optaram por cortar juros para dar um sopro de vida econômico. Outros que já tinham patamares negativos, não mudaram; é o caso do BOJ e ECB (https://www.boj.or.jp/en/mopo/mpmdeci/state_2020/k200121a.htm/ e https://www.ecb.europa.eu/stats/policy_and_exchange_rates/key_ecb_interest_rates/html/index.en.html). 

Depois de reduzir para 0-0,25% em reuniões extraordinárias, o FED manteve e comunicou que deve continuar comprando bonds, mas procura manter o patamar de juros; ou seja, território negativo, não. É o que Powell já tinha dito em outras oportunidades. 

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O mercado, porém, já começa a precificar taxas negativas. Os contratos futuros na Chicago Mercantil Exchange negociam a 100 - FED funds rate; nesse caso, se o nível estiver acima de 100, o mercado está precificando juros negativos (https://www.cmegroup.com/trading/interest-rates/stir/30-day-federal-fund.html). E é o caso atual:


Com os dados de desemprego assustando, a recuperação econômica se torna mais complicada, por si só. E, na última semana, o mercado passou a ajustar mesmo em telas mais próximas a referência negativa (https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-05-07/negative-u-s-policy-rate-seen-by-early-2021-in-futures-market):

Rally in Fed funds futures signals market leaning toward negative U.S. policy rate

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Na verdade, o mercado de trabalho assusta e muito (ao menos, não as Bolsas americanas). A capa do NYT de hoje:

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Um adendo: do comunicado de Janeiro do BOJ, me chamou atenção, além de atuar comprando ETFs (coisa que o FED disse essa semana que fará), os J-REITs. Basicamente, lidará com ativos de Real Estate. 

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Me aventurando no jazz argentino com Ruben Lopez Furst:

Jazz Argentino En La Universidad - Livros na Amazon Brasil ...Jazz En La Universidad em 2019 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

O que tenho lido (e me assustado) no começo de maio de 20

Os pedidos de seguro-desemprego americanos atingiram patamares impensáveis para outros momentos e ~20% (!) da força de trabalho do país está no meio disso: Nearly 20 Percent Of The U.S. Labor Force Has Filed For Unemployment Since Mid-March (https://fivethirtyeight.com/features/nearly-20-percent-of-the-u-s-labor-force-has-filed-for-unemployment-since-mid-march/)

Essa possível capa do NYTimes mostra a loucura da situação: https://twitter.com/jbenton/status/1245696846753935360/photo/1

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Nunca pensei que veria isso, mas bitcoin e hedge numa mesma frase se tornou real (e estratégia de investimento): Paul Tudor Jones Buys Bitcoin as a Hedge Against Inflation (https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-05-07/paul-tudor-jones-buys-bitcoin-says-he-s-reminded-of-gold-in-70s)

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A importância das techs no S&P: The Alarming Rise of Algorithms as Heroes of the Stock Recovery (https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-05-07/the-alarming-rise-of-algorithms-as-heroes-of-the-stock-recovery) e uma comparação com as aéreas

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No geral, os presidentes ao redor do globo se aproveitaram da situação para aumentar sua popularidade. Não foi o caso do Brasil:



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Aldir e Ron Carter:https://www.quatrocincoum.com.br/br/colunas/c/aldir-caricia-e-bofetada. Aliás, tenho ouvido Jorge López Ruiz e só um comentário possível: o free jazz argentino é da pesada! 

Jorge Lopez Ruiz - Bronca Buenos Aires - Amazon.com Music





Fundos de investimentos futebolísticos - 2º tempo: Milan&Elliot

O Milan do trio holandês Van Basten&Gullit&Rijkard (vide abaixo, trajados de rossonero) todo mundo que teve um mínimo de contato com...